Um corpo constituído por vários tecidos, sucessivamente sobrepostos, inspirado num traje regional português – as sete saias da Nazaré - é rematado, a partir do topo, por um último tecido: a burca, veste de tradição islâmica destinada a cobrir inteiramente a silhueta feminina. Este mesmo corpo é repetidamente sujeito a movimentos de ascensão lenta e sequente queda abrupta sobre um palco - como os movimentos da guilhotina ou do condenado à forca -, acrescentando sentido dramático à improvável conciliação entre tradições religiosas e populares de raízes tão diversas. Burka revela a Mulher no epicentro de um movimento permanente, dramático e violento, cujas causas não serão certamente exclusivas de uma qualquer especificidade geográfica ou religiosa.
Obras