Uma enorme estrutura em ferro forjado – um bule de chá -, percorrida e decorada com vegetação – plantas de jasmim –, impõe a sua presença monumental captando a atenção imediata do público. Nas grades em ferro, que dão forma ao bule, reconhecemos os padrões característicos de vedações e guardas de varandas que pontuam diferentes paisagens urbanas e rurais.
O objeto assume-se como uma autêntica escultura - caramanchão; manifestação de um idealizado princípio de complementaridade e simbiose entre o natural e o industrial. O ferro forjado, elemento arquitetónico simultaneamente funcional e decorativo, surge investido de importância estrutural na construção do objeto, cuja domesticidade é negada pela hiperbolização da sua habitual escala. O jasmim - que envolve toda a estrutura da peça em forma de bule -, cujas flores são habitualmente usadas para perfumar o chá verde, sublinha a ligação do objeto ao hábito de beber chá.
A este propósito, mencione-se a subtil alusão histórica presente na obra, relativa ao protagonismo que os portugueses assumiram na introdução do chá nos hábitos de consumo europeus, quando chegaram ao Oriente, trazendo até Portugal carregamentos de chá que seriam posteriormente exportados para diversos portos europeus; ou, ainda, o exemplo de Catarina de Bragança (1638-1705), princesa de Portugal e rainha consorte de Inglaterra e Escócia, a quem também se atribui a responsabilidade de ter incutido na corte inglesa o hábito de beber chá.
Assertivas referências históricas e culturais; e alusões relativas à realidade urbana, rural, doméstica e pública colaboram numa estratégia de apropriação, descontextualização e subversão da banalidade, transportando o observador para um universo desafiador das rotinas programadas do quotidiano; um mundo estranho e simultaneamente familiar.
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